Escrever poesia hoje - alea jacta est
Quando inicialmente tracei algumas primeiras linhas formais sobre a questão da poesia relativamente problematizada, estava a comentar com o editor do Jornal de Poesia, Soares Feitosa – brevemente e por e-mail -, uma observação do poeta Alexei Bueno sobre a poética brasileira “atual” (a de fins de 1990). Alexei, considerado pela crítica como “metafísico” (pelo que li de forma esparsa do hipertexto do próprio Jornal de Poesia), menos esquadrinhava que depreciava: principalmente da replicação insossa e estéril de fórmulas gastas – clichês? – no argumento do signo poético, fazia ele, pelo que me pareceu e se não erro, o termo de denúncia do esvaziamento lírico-espiritual-transcendental de um fazer poético anêmico, desidratado e eminentemente substantivo, uma malograda revisitação de Cabral pelos andaimes e roldanas do elevador “obsoleto” do pós-concretismo.
Li um pouco de Alexei, especialmente um seu poema chamado “Helena”, evocado, então, como um dos representativos, e no bojo da ocasião disse ao Feitosa ter encontrado no verso um conjunto formal com um “conteúdo” menos que proporcional.
O poeta da “pós-modernidade”, penso, encontra-se numa situação difícil, mas consigo mesmo. Não há escolas, movimentos, referências, mesmo estilos; não como ordinariamente os conhecemos. Há os grupos que me parecem mais escolhidos que egressos, adventícios da dinâmica psicopedagógica do escrever, da comunhão com o mistério da literatura: dos eleitos – pelo mistério; e não dos escolhidos, escolhidos por um filosofismo propedêutico e estruturalista do semântico/semiótico que é a (ou pretende ser) fina-flor de sua poesia. Mistério como, no dizer de Roland Bhartes, seria o Texto, a escritura, com tudo o que se lhe significa, e não algo infantilmente e simplificadamente esotérico.
Dificuldade do poeta consigo mesmo porquanto, se não eminentemente narcisista, ele se quer (também) espelhado em algo/alguém, parecido – verdade da cultura -, mas significativo do novo, do enigmático – mistério que em nossa época seria a decifração dos caos – verdade da escatologia. (Repousa ainda em nós o bom e velho homem de antigamente! Da costela de Adão e do Barro, o homem homo sapiens?)
Elucubrações à parte, li também no JP a conhecida carta de Mário Quintana em resposta a um jovem poeta que lhe pedia orientações em matéria de poesia. Quintana, depois de dizer ao consulente que seguisse seu próprio caminho, pediu que voltasse a falar-lhe depois de algumas dezenas de anos. Bom, frustrações à parte, o Quintana em questão ouviu o jovem poeta, respondeu-lhe, disse-lhe para voltar! E ah, Deus! Como seria bom se nós, poetas de 2005, tivéssemos o nosso Mário Quintana como conselheiro! Como isso nos seria reconfortante frente à mudez e frieza de tantos e tantos “consultados” diante de um discreto pedido de apreciação, um comentário, uma sugestão. É difícil hoje se receber, se se mereça, claro, um: “você escreve bem”; “gostei da sua poesia (do seu poema)”; “você precisa observar esse ou aquele detalhe”. Não. Não há resposta nesse sentido, acredito que com pouquíssimas exceções. Da minha experiência, há o silêncio como que a salvaguardar o descompromisso, o distanciamento, o não-envolvimento, o não-endosso a priori. A priori? De quê?
Vivemos essa era de dificuldades sem mecenas. Sem círculos - desarmados e espontâneos - de diálogo, conversação, troca de idéias. O que fazer aquele que pretende escrever poesia hoje e a um só tempo dialogar com outras perspectivas (tanto menos a dos afetados-iniciáticos), descontente com a retumbância singular e surda de sua própria voz? A poesia brasileira está tão ruim quanto disse Alexei? Paulo Leminski, Ana Cristina Cesar, Manoel de Barros, César Leal, Glauco Mattoso não fizeram a sua parte? Os letristas da MPB (essa uma outra nutrida controvérsia) não são poetas? Há espaço editorial fora das universidades e dos “clubes” literários fechados do velho eixo Rio-São Paulo?
E especificamente a jovem poesia, ou poetas da “agoridade”? A esses, o tatear no escuro. Não que a “descanonização” em si seja nociva, pelo contrário: provocadora, fértil; e o escuro, o horizonte difuso do devir da aurora!? Não. Uma espécie de eclipse que teima em manter-se “em cartaz”. A sorte está lançada ao poeta dos nossos tempos: com um dado viciado.
Lucas Tenório
Li um pouco de Alexei, especialmente um seu poema chamado “Helena”, evocado, então, como um dos representativos, e no bojo da ocasião disse ao Feitosa ter encontrado no verso um conjunto formal com um “conteúdo” menos que proporcional.
O poeta da “pós-modernidade”, penso, encontra-se numa situação difícil, mas consigo mesmo. Não há escolas, movimentos, referências, mesmo estilos; não como ordinariamente os conhecemos. Há os grupos que me parecem mais escolhidos que egressos, adventícios da dinâmica psicopedagógica do escrever, da comunhão com o mistério da literatura: dos eleitos – pelo mistério; e não dos escolhidos, escolhidos por um filosofismo propedêutico e estruturalista do semântico/semiótico que é a (ou pretende ser) fina-flor de sua poesia. Mistério como, no dizer de Roland Bhartes, seria o Texto, a escritura, com tudo o que se lhe significa, e não algo infantilmente e simplificadamente esotérico.
Dificuldade do poeta consigo mesmo porquanto, se não eminentemente narcisista, ele se quer (também) espelhado em algo/alguém, parecido – verdade da cultura -, mas significativo do novo, do enigmático – mistério que em nossa época seria a decifração dos caos – verdade da escatologia. (Repousa ainda em nós o bom e velho homem de antigamente! Da costela de Adão e do Barro, o homem homo sapiens?)
Elucubrações à parte, li também no JP a conhecida carta de Mário Quintana em resposta a um jovem poeta que lhe pedia orientações em matéria de poesia. Quintana, depois de dizer ao consulente que seguisse seu próprio caminho, pediu que voltasse a falar-lhe depois de algumas dezenas de anos. Bom, frustrações à parte, o Quintana em questão ouviu o jovem poeta, respondeu-lhe, disse-lhe para voltar! E ah, Deus! Como seria bom se nós, poetas de 2005, tivéssemos o nosso Mário Quintana como conselheiro! Como isso nos seria reconfortante frente à mudez e frieza de tantos e tantos “consultados” diante de um discreto pedido de apreciação, um comentário, uma sugestão. É difícil hoje se receber, se se mereça, claro, um: “você escreve bem”; “gostei da sua poesia (do seu poema)”; “você precisa observar esse ou aquele detalhe”. Não. Não há resposta nesse sentido, acredito que com pouquíssimas exceções. Da minha experiência, há o silêncio como que a salvaguardar o descompromisso, o distanciamento, o não-envolvimento, o não-endosso a priori. A priori? De quê?
Vivemos essa era de dificuldades sem mecenas. Sem círculos - desarmados e espontâneos - de diálogo, conversação, troca de idéias. O que fazer aquele que pretende escrever poesia hoje e a um só tempo dialogar com outras perspectivas (tanto menos a dos afetados-iniciáticos), descontente com a retumbância singular e surda de sua própria voz? A poesia brasileira está tão ruim quanto disse Alexei? Paulo Leminski, Ana Cristina Cesar, Manoel de Barros, César Leal, Glauco Mattoso não fizeram a sua parte? Os letristas da MPB (essa uma outra nutrida controvérsia) não são poetas? Há espaço editorial fora das universidades e dos “clubes” literários fechados do velho eixo Rio-São Paulo?
E especificamente a jovem poesia, ou poetas da “agoridade”? A esses, o tatear no escuro. Não que a “descanonização” em si seja nociva, pelo contrário: provocadora, fértil; e o escuro, o horizonte difuso do devir da aurora!? Não. Uma espécie de eclipse que teima em manter-se “em cartaz”. A sorte está lançada ao poeta dos nossos tempos: com um dado viciado.
Lucas Tenório
1 Comments:
cara curti o que tu escrevestes...
quero dizer o seguinte...caara vivemos num tempo tão absurdamente monotono chato e tedioso e pode botar todos esses intelectochatos como tu escreveu ei cara olha o que ta escrito o cara tem que vir com um bando de baboseira do tipo procura teu caminho rilke...o que quero dizer é o seguinte acho ducaralho essa escuridao na poesia e acho que tem que ficar assim em fluxo no sentido de que os homens tem que ter um territorio que reconheça a morte como final da linha e um territorio livre de regra de logica de toda essa merda tecnicohumanoocidental pra se viver bem com saude e toda essa corja de desejos ainda que tudo seja a vida tudo ê de deus como diziam os antigos...cara acho a vida uma perda de tempo um comer e sentir fome logo depois e não ha nada que me convença do contrario a vida e inutil e a poesia é a aceitação da inutilidade da vida e isso não é niilismo não é ressentimento náo é despotismo náo é nada...cara morreu acabou e nada mais vai fazer diferen´ça os stúpidos humanos se agarram em tudo prá realizar sua cadeia de desejos riem sáo felizes fofocam o tempo foda-se nada faz diferená nada chegamos no espaço e acabou o pr´ximo salto a cura das doen´ças mortais náo tem o o que tem é afetação pedantismo bobajens debilidade-normal-mental no sentido de vejam sou um pagador de impostos estou nadando em dinheiro todos me amam morreu acabou e ponto final até que se saiba mais das possibilidades algures...enquanto isso antes da sala de cirurgia deixe os técnicos agarrados em suas ferramentas afinal é bom que o cara da editora saiba mexer na máquina prá publicar o livro agora a poesia deve permanecer sem regras não digo a arte digo a poesia como aceitação tácita da inutilidade de nossos estúpidos movimentos inclua nisso o trabalho do médico ao fazer o parto porque exceto pelo contentamento suremo e magnifico da mãe em sentido cósmico é inútil e que a spécie seja preservada e daí vivemos numa época de chatice tedio mortal e de culto a besta humana egóica como dissse zizek bem vindo a o deserto do real e a poesia deve falar disso e fugir como o diabo foge da cruz dos malditos pedantes lógicochatos ,,,a poesia tem que ser pop pop como uma bolha de sabão e se possivel abrir-se pro ser seja lá o que isso significa em termos heideggerianos....tédio mortal chatice ...a´poesia manter-se-á afastado de toda a regralógicodefinitiva como aceitação da falibilidade humana em face do tempoespaço eternos
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