17.9.05

Capibaribe, Meu Rio - Austro Costa

Capibaribe, meu rio,
espelho do meu sonhar
quero fazer-te o elogio,
mas penso: Se te elogio,
é a mim que estou a elogiar...

Capibaribe, meu rio,
espelho do meu sonhar...

Meu velho Capibaribe
meu irmão de sonho e amor...
..............................................

Capibaribe, meu rio,
Que vida levamos nós!
tu corres: eu rodopio...
E há quarenta anos a fio:
sempre juntos - e tão sós!

Capibaribe, meu rio,
que vida levamos nós!
Mas sabe Deus a constância
com que sofreste e eu sofri,
para, vencida a distância,
vermos quão cega foi a ânsia
com que sofreste e eu sofri...

Capibaribe, meu rio,
vinhas de longe a correr.
- Aonde vais, poeta vadio?
E ouvindo o meu desafio,
paraste para me ver...

Capibaribe, meu rio,
vinhas de longe a correr...

Paraste... e, logo, nascia
em mim a doida ambição
de seguir-te... Até que um dia,
fiz a enorme tropelia
de abandonar meu rincão!

Paraste... e, logo, nascia
em mim a doida ambição...

Capibaribe, meu rio,
tal chegaras, tal cheguei...
Mercê do Fado sombrio,
tudo sofri, mas com brio:
sem dizer “Aqui-del-Rei!...”

Capibaribe, meu rio,
tal chegara, tal cheguei!

Por te ouvir, que triste engano,
Capibaribe!... Que horror!
Que destino inglório e insano!

Tu corrias para o Oceano,
eu corria para o Amor...

Por te ouvir, que triste engano!
Triste, mas encantador...