A condenação do poeta
eu sou-te o juiz
não canto agonias
não sei o que diz
Senhora poeta,
eu sou veredicto.
Não te tenho escrito,
não sou-te infeliz.
Senhora poeta,
de vida alfabeta,
um lápis nas rugas,
marca, cicatriz?
Senhora poeta
a casa monetária
empenou com a queda,
uma avaria vária...
Senhora poeta,
por isto pintaste
tua nota de encanto
na face escarlate?
Senhora poeta
não te dou azul
preferes desterro
no norte ou no sul?
Senhora poeta,
que cilada a alguém
apanhaste na quadra
que preparaste tão bem
Senhora poeta,
varões os cobardes
Se assim teus Titãs
te inscrevem na testa?
Senhora poeta,
falaste em maçãs,
em parques de infantes
de elefantes falantes
Senhora poeta,
sem nem cerimônia
acordaste da insônia
uma porção de amanhãs
Senhora poeta
que passos tão largos
ajuizaste dar
nesses doidos embargos
Senhora poeta:
garganta gangorra
corrente masmorra
papel e caneta.
Lucas Tenório
Inspirado pelo
A Defesa do Poeta - Natália Correia
Senhores juízes sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de paixão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever.
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home