13.2.06

Antonio Carlos Secchin e Anderson Braga Horta

Abaixo, os comentários do Professor Antonio Carlos Secchin e do poeta Anderson Braga Horta acerca do conjunto dos poemas - publicados neste blog - Açougue, Pedra de Toque, Pedra Angular, A face oculta da sombra e Papel de parede.
________________________________________

De: Antonio Carlos Secchin
Para: Lucas Tenório
Data: 10/02/2006 20:15
Assunto: Re: Alguns poemas meus para sua apreciação

caro Tenório,
em geral não me manifesto sobre poemas via Internet, não só porque prefiro sempre lê-los sob forma impressa, como porque a demanda de leitura é algo excessiva, e, mesmo com boa-vontade, não poderia, infelizmente, dar conta dela, na proporção que me chega. Mas, apesar dessas ressalvas, não me furtarei a um breve comentário. Seus textos, inegavelmente, trazem marca pessoal, ainda que neles se localizem ecos de Augusto dos Anjos na obsessão temática e de Cabral na dureza da expressão, tão diversa da suavidade lírica de Pena Filho que você apôs ao conjunto [Nota de rodapé do e-mail]. Seria bom, a meu ver, que você experimentasse ampliar o leque temático de seus poemas, inclusive para desenvolver outros universos lexicais e tornar eventualmente mais fluida sua dicção, embora seja possível que você deseje exatamente o oposto, e, sob esse ponto de vista, nada haveria a alterar, e sim a preservar. Desejo-lhe sucesso, e fique com o abraço de
Antonio Carlos Secchin.
________________________________

De: Anderson Braga Horta
Para: Lucas Tenório
Data: 12/02/2006 20:28
Assunto: Re: Alguns poemas meus para sua apreciação

Meu caro poeta Lucas Tenório:

Você me envia alguns poemas para minha apreciação. De início, peço-lhe
que receba com a necessária reserva qualquer comentário, meu ou de outrem,
sobre o que seja e o que não seja poesia, que é algo que deve ser criado,
conquistado, revelado, mas de qualquer maneira interiorizado na mente e no
sentir do poeta: ele, pois, é que se deve capacitar à autocrítica.
Que posso lhe dizer, à vista dos cinco poemas enviados?
Alguma coisa sólida: que sua linguagem é boa, que sua metrificação é con-
vincente (com alguma ressalva talvez impertinente, mas, já que estou emitindo
opinião, devo ser franco: não me agrada, por exemplo, a leitura de córtex como
córtequis, como não me agradam, em geral, os hiatos).
E alguma coisa vaga: que você revela um certo cerebralismo à João Cabral;
não obstante, e paradoxalmente, uma tendência ao hermetismo (talvez uma fuga
deliberada à lógica que normalmente rege a face discursiva do poema). Este item
parentético me perturba a leitura de seus versos; não é o hermetismo de certos
simbolistas, que não exclui um vislumbre do "sentido" do poema, mas um
esquartejamento que o torna incompreensível, sem compensar isso com uma boa
dose de sugestividade, salvo melhor juízo. (É uma observação vincadamente sub-
jetiva, reconheço, mas é a que posso fazer.)
Finalmente, anoto uma recorrência do escatológico, sem necessidade visível.
Veja que a parte negativa de minhas observações é antes - digamo-lo assim -
de ordem ideológica, e a parte afirmativa se refere ao uso das "ferramentas" de
trabalho, o que o deixa, no meu entender, em boas condições para realizar uma
poesia de nível.
Receba esta crítica tosca, mas bem intencionada, como positiva, no balanço.
Você me diz que tem 36 anos; seu confrade aqui tem praticamente o dobro, (...).
Mas, assim como tamanho não é documento, idade também não é...
Receba os votos de sucesso e o abraço amigo de

Anderson