15.2.06

Cabeças a prêmio

Era no Velho Oeste
Era no Cangaço do Sertão
De um lado eram as Volantes
De outro o bando de Lampião
Eram uns cabras apreçados
Não nos braços para algemas
Não nos pés para trabalho
Eram tidos como entulhos
Eram espécies de espantalhos
Para o bom e nobre esforço
Eram da fruta o caroço
Eram da polpa o bagaço
Pagava-se por cada um maço
Só um maço de cigarro
E se causavam pigarro
Na garganta normalista
Escarrados, babam, escorrem
Pelos dentes moralistas
Eram dos canibalistas
O seu prato preferido
Eram o sangue destilado
Pela sede do abstêmio
Eram homens, simples homens
Com os seus crânios a prêmio

Ai pegavam as cabeças dos filhos das putas
e dividiam-nas em hemisférios

E os homens sérios banqueteavam-se com sua massa
Sófregos, com uvas-passas
recheavam os cerebelos
e se à má sorte
um cabelo os engasgava
quanto impropério às mães dos degolados

Chegava a hora do acertado
a divisão da recompensa
aos risos, asseveravam

"O crime não compensa, porra!"

Alguém socorra essas cabeças
antes que alguém mais morra.

Lucas Tenório