Patativa e Assum Preto
232 - O Desafio
Dois prá lá, três prá acolá.
(Exú, Santana, Itamaracá.)
A Pega:
Na rinha dois Galos do Sertão.
Um Pedrez outro Listrado,
Mas todos dois imbriagado
Com as cores do Azulão.
À moda do Feitor da Chapada do Araripe, das Aves Canoras.
A Licença:
Baco, Dionísio, Apolo, Homero e Virgílio
(Antônio, Januário e Vitalino.)
A Boa Nova:
Patativa, Assum Preto, a três palmos de Céu,
in natura, num Temporal Vocabular.
A munição:
Uma Baleeira de Algodão.
A Platéia:
A Academia, Sombrinha, Pedreira e Cal.
Lá o que se vê e se espera é a Hora em que o Amanhã
reverbera os laivos desse Festival.
O Metro:
Oito Baxo, de Pernêra e de Gibão.
A Sentença:
Diz o Rei da Cantoria:
(Patativa do Assaré)
"Uma singela bandêra
Bem no terrêro se via,
Homenage verdadêra
Do santo mês de Maria,
Na sala, inriba da mesa,
Umas quatro vela acesa
E de juêio no chão,
Uma muié paciente
Lendo vagarosamente
Com a cartia na mão."
O Mote:
Diz o Rei da Cantoria:
"Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva
Pintadinha de fulô."
"Sou fio das mata, cantô de mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio,
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío."
"Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão."
"Prá gente cantá o sertão,
Precisa nele morá,
Tê armoço de feijão
E a janta de mucunzá,
Vive pobre, sem dinhêro,
Trabaiando o dia intêro,
Socado dentro do mato,
De apragata currelepe,
Pisando inriba do estrepe,
Brocando a unha-de-gato."
"Só canta o sertão dereito,
Com tudo quanto ele tem,
Quem sempre correu estreito,
Sem proteção de ninguém,
Coberto de precisão
Suportando a privação
Com paciença de Jó,
Puxando o cabo da inxada,
Na quebrada e na chapada,
Moiadinho de suó."
"Canto as fulô e os abróio
Com todas coisa daqui:
Pra toda parte que eu óio
Vejo um verso se bulí.
Se as vêz andando no vale
Atrás de curá meus male
Quero repará pra serra,
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um diluve de rima
Caindo inriba da terra."
"Sertão, arguém te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo que os teus mistero
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o que cantá."
O Rei do Baião,
(Luiz Gonzaga)
Com o Assaré engasgado,
O Peito a Couro Cru,
Encangado com um Bacamartêro,
Ensaia um Festim, um Luzêro,
Na Feira de Caruaru.
A Rendição:
Seu Luiz, tá a maió algaravia,
A grita, na Capitá.
De Agreste só mermo o nome.
Tá doce que nem bombone.
Muié das mais bunita,
Dasquela que só dá poesia.
E dos home... Ah..., dos home...
Só se vê Cabra da Peste!
Guto Imberbe,
essa istripulia foi de precisão.
Faço menção:
Mande.
Gil e Caetano ganharo um beju
Calibre Setenta e Dois?
Humberto e Zé Dantas, uma pexêra, foice
E a cartuchêra, é doze polegadas?
César uma Muié Macho
Deixe o Abraço, outra Rendêra
Tomaz, o seu xará, pergunta pelo gado
Tá todo marcado, com fivela de fita
Zé Ramalho um novilho em folha
Chico, no vêio, achô Rita, e Carolina
Essas menina, esses mandacarú...
Vou Elencar: Iracema, Rosinha,
Gabriela, Calú, Xanduzinha e Capitú.
E Noel deixou Filosofia
O ABC do Sertão?
Do Pau Brasil tirâro semente de Agrião
E Machado, facão de mão
Tem Madeira de Lei
Imburana, Paudalho, Gonçalo Alves
Mande ela ao mar para Xangai
Viajar
De Moacir uma foto dum bebê num parque
E se parece cumigo?
Do umbigo de Cartola um botão de rosa
Mande alforge de couro curtido
Lia uma Guirlanda de Flores
Que ela cante Escravos de Jó
Algodão no capuxo intactu e
Tem cactu da Amazônia
Deve ser de Vital Farias, o Uirapurú
Tem poesia de Drummond
E do Mundo uma bicicreta
Pra quê, si num passa na Estrada de Canindé
Ataulfo Manda laranja, qué?
As da bôa, e Bixada?
(Viram Aderaldo dando um nó num pingo d'água)
Que coisa boa, com cordão de Fumo de Rolo?
Adoniram manda um tijolo
Da Sala de Reboco?
Tem uns Morais de Copacabana
Tome chapéu e cigarro de paia,
Cana, rapadura, jiló
E aguardente do grotão
Uma Baiana com tempero de mão
Vatapá, angú, pamonha, juá,
Mel de engenho e Maria Bonita
Lee comprou uma calça pro irmão
Diga a ela que tem refrão de Eme Pê Bê.
Um deputado, enganado, te mandou
Um Canhoto
O da Paraíba?
Mais inriba, Adriana te manda Esquadros
Pra medir o Pajeú?
Catulo, tá apaixonado
E Dilermando manda a Alma Nordestina
Eu devolvo Sons de Carrilhões
Um tal de Carlinhos acendeu o candiêro
Dançando Baião, Xote, Côco e Tango
Viram duas Pele de Tatu Cola
Num poema de Décio
E eu que já vi dois guri jogando bola
Sivuca joga sinuca mais Laércio,
Cum taco da merma Escola
Tem gente querendo rever seus xodó
Leia Luar do Sertão, com Lupa
E Nubia Lafaiete em dó maior
Tem gente que a gente num esquece
Mande Cupuaçu de Igarassu, e do Agreste
Em cima do lombo dum jumento
Frutas cítricas as do momento
Farinha, feijão, charque, xerém,
Laranja, acerola, Orestes e Cartola
Acharam um medalhão num Pé de Serra.
Isso mermo, aqui também tem viola.
Lampião, Padim Ciço, Conselheiro,
Damião e Juazeiro rezando junto.
É, Guto, dou a mão à palmatória.
É, seu Lua, essa história vai render.
E merminho agora que o moinho
Voltou a moer.
Adeus mandou uma Asa Branca.
Amém.
O Desfecho, do Rei da Cantoria:
(Patativa do Assaré)
"Tu é belo e é importante,
Tudo teu é naturá
Ingualmente o diamante,
Ante de arguém Lapidá.
Deste jeito é que te quero,
Munto te estimo e venero,
Vivendo assim afastado
Da vaidade, do orguio,
Guerra, questão e baruio
Do mundo civilizado."
"Sertão amigo, eu tô vendo
Que os teu novo camponês,
Hoje ainda tão fazendo
Aquilo que os véio fez.
Que doce felicidade
Eu gozei na mocidade,
Nesta santa ingorfação!
Quando se acabava Maio,
Já começava os insaio
Do santo mês de S. João."
"Como o ricaço usuraro
Guarda uma moeda de ôro
Fiz do meu peito sacraro
E guardei estes tesôro.
E aqui, dentro do meu peito,
Inda tá tudo perfeito,
Não mudaro de feição
As duas fotografia,
Do santo mês de Maria
E das Festa de S. João."
FIM
E dizem que além do sol,
O Bem-te-vi, o Rouxinol,
O Colibri, o Sanhaçu,
(e muitos outros de bixu voador)
Voaram para além do sul
E pegaro uma dupla avenida...
Agora essa estória, querida
(o poeta faz nota da Musa)
E sei que tu é atrevida,
No mês de junho se conta
Feito colar de conta
Na Feira de Caruaru.
Lucas Tenório
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Bibliografia:
Cante Lá que eu Canto Cá - Filosofia de um Trovador Nordestino
- Patativa do Assaré.
Dois prá lá, três prá acolá.
(Exú, Santana, Itamaracá.)
A Pega:
Na rinha dois Galos do Sertão.
Um Pedrez outro Listrado,
Mas todos dois imbriagado
Com as cores do Azulão.
À moda do Feitor da Chapada do Araripe, das Aves Canoras.
A Licença:
Baco, Dionísio, Apolo, Homero e Virgílio
(Antônio, Januário e Vitalino.)
A Boa Nova:
Patativa, Assum Preto, a três palmos de Céu,
in natura, num Temporal Vocabular.
A munição:
Uma Baleeira de Algodão.
A Platéia:
A Academia, Sombrinha, Pedreira e Cal.
Lá o que se vê e se espera é a Hora em que o Amanhã
reverbera os laivos desse Festival.
O Metro:
Oito Baxo, de Pernêra e de Gibão.
A Sentença:
Diz o Rei da Cantoria:
(Patativa do Assaré)
"Uma singela bandêra
Bem no terrêro se via,
Homenage verdadêra
Do santo mês de Maria,
Na sala, inriba da mesa,
Umas quatro vela acesa
E de juêio no chão,
Uma muié paciente
Lendo vagarosamente
Com a cartia na mão."
O Mote:
Diz o Rei da Cantoria:
"Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva
Pintadinha de fulô."
"Sou fio das mata, cantô de mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio,
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío."
"Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão."
"Prá gente cantá o sertão,
Precisa nele morá,
Tê armoço de feijão
E a janta de mucunzá,
Vive pobre, sem dinhêro,
Trabaiando o dia intêro,
Socado dentro do mato,
De apragata currelepe,
Pisando inriba do estrepe,
Brocando a unha-de-gato."
"Só canta o sertão dereito,
Com tudo quanto ele tem,
Quem sempre correu estreito,
Sem proteção de ninguém,
Coberto de precisão
Suportando a privação
Com paciença de Jó,
Puxando o cabo da inxada,
Na quebrada e na chapada,
Moiadinho de suó."
"Canto as fulô e os abróio
Com todas coisa daqui:
Pra toda parte que eu óio
Vejo um verso se bulí.
Se as vêz andando no vale
Atrás de curá meus male
Quero repará pra serra,
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um diluve de rima
Caindo inriba da terra."
"Sertão, arguém te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo que os teus mistero
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o que cantá."
O Rei do Baião,
(Luiz Gonzaga)
Com o Assaré engasgado,
O Peito a Couro Cru,
Encangado com um Bacamartêro,
Ensaia um Festim, um Luzêro,
Na Feira de Caruaru.
A Rendição:
Seu Luiz, tá a maió algaravia,
A grita, na Capitá.
De Agreste só mermo o nome.
Tá doce que nem bombone.
Muié das mais bunita,
Dasquela que só dá poesia.
E dos home... Ah..., dos home...
Só se vê Cabra da Peste!
Guto Imberbe,
essa istripulia foi de precisão.
Faço menção:
Mande.
Gil e Caetano ganharo um beju
Calibre Setenta e Dois?
Humberto e Zé Dantas, uma pexêra, foice
E a cartuchêra, é doze polegadas?
César uma Muié Macho
Deixe o Abraço, outra Rendêra
Tomaz, o seu xará, pergunta pelo gado
Tá todo marcado, com fivela de fita
Zé Ramalho um novilho em folha
Chico, no vêio, achô Rita, e Carolina
Essas menina, esses mandacarú...
Vou Elencar: Iracema, Rosinha,
Gabriela, Calú, Xanduzinha e Capitú.
E Noel deixou Filosofia
O ABC do Sertão?
Do Pau Brasil tirâro semente de Agrião
E Machado, facão de mão
Tem Madeira de Lei
Imburana, Paudalho, Gonçalo Alves
Mande ela ao mar para Xangai
Viajar
De Moacir uma foto dum bebê num parque
E se parece cumigo?
Do umbigo de Cartola um botão de rosa
Mande alforge de couro curtido
Lia uma Guirlanda de Flores
Que ela cante Escravos de Jó
Algodão no capuxo intactu e
Tem cactu da Amazônia
Deve ser de Vital Farias, o Uirapurú
Tem poesia de Drummond
E do Mundo uma bicicreta
Pra quê, si num passa na Estrada de Canindé
Ataulfo Manda laranja, qué?
As da bôa, e Bixada?
(Viram Aderaldo dando um nó num pingo d'água)
Que coisa boa, com cordão de Fumo de Rolo?
Adoniram manda um tijolo
Da Sala de Reboco?
Tem uns Morais de Copacabana
Tome chapéu e cigarro de paia,
Cana, rapadura, jiló
E aguardente do grotão
Uma Baiana com tempero de mão
Vatapá, angú, pamonha, juá,
Mel de engenho e Maria Bonita
Lee comprou uma calça pro irmão
Diga a ela que tem refrão de Eme Pê Bê.
Um deputado, enganado, te mandou
Um Canhoto
O da Paraíba?
Mais inriba, Adriana te manda Esquadros
Pra medir o Pajeú?
Catulo, tá apaixonado
E Dilermando manda a Alma Nordestina
Eu devolvo Sons de Carrilhões
Um tal de Carlinhos acendeu o candiêro
Dançando Baião, Xote, Côco e Tango
Viram duas Pele de Tatu Cola
Num poema de Décio
E eu que já vi dois guri jogando bola
Sivuca joga sinuca mais Laércio,
Cum taco da merma Escola
Tem gente querendo rever seus xodó
Leia Luar do Sertão, com Lupa
E Nubia Lafaiete em dó maior
Tem gente que a gente num esquece
Mande Cupuaçu de Igarassu, e do Agreste
Em cima do lombo dum jumento
Frutas cítricas as do momento
Farinha, feijão, charque, xerém,
Laranja, acerola, Orestes e Cartola
Acharam um medalhão num Pé de Serra.
Isso mermo, aqui também tem viola.
Lampião, Padim Ciço, Conselheiro,
Damião e Juazeiro rezando junto.
É, Guto, dou a mão à palmatória.
É, seu Lua, essa história vai render.
E merminho agora que o moinho
Voltou a moer.
Adeus mandou uma Asa Branca.
Amém.
O Desfecho, do Rei da Cantoria:
(Patativa do Assaré)
"Tu é belo e é importante,
Tudo teu é naturá
Ingualmente o diamante,
Ante de arguém Lapidá.
Deste jeito é que te quero,
Munto te estimo e venero,
Vivendo assim afastado
Da vaidade, do orguio,
Guerra, questão e baruio
Do mundo civilizado."
"Sertão amigo, eu tô vendo
Que os teu novo camponês,
Hoje ainda tão fazendo
Aquilo que os véio fez.
Que doce felicidade
Eu gozei na mocidade,
Nesta santa ingorfação!
Quando se acabava Maio,
Já começava os insaio
Do santo mês de S. João."
"Como o ricaço usuraro
Guarda uma moeda de ôro
Fiz do meu peito sacraro
E guardei estes tesôro.
E aqui, dentro do meu peito,
Inda tá tudo perfeito,
Não mudaro de feição
As duas fotografia,
Do santo mês de Maria
E das Festa de S. João."
FIM
E dizem que além do sol,
O Bem-te-vi, o Rouxinol,
O Colibri, o Sanhaçu,
(e muitos outros de bixu voador)
Voaram para além do sul
E pegaro uma dupla avenida...
Agora essa estória, querida
(o poeta faz nota da Musa)
E sei que tu é atrevida,
No mês de junho se conta
Feito colar de conta
Na Feira de Caruaru.
Lucas Tenório
___________________________________________
Bibliografia:
Cante Lá que eu Canto Cá - Filosofia de um Trovador Nordestino
- Patativa do Assaré.
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