18.11.05

Depois da teoria - Terry Eagleton

"De todo modo, a arte e a literatura abrangem um grande número de idéias e experiências difíceis de conciliar com o quadro político atual. Elas também levantam questões sobre a qualidade de vida num mundo onde a própria experiência parece perecível e degradada. Como, em tais condições, e antes de qualquer coisa, você pode produzir uma arte de valor? Não teria você que mudar a sociedade a fim de crescer como um artista? Além disso, aqueles que lidam com a arte falam a linguagem do valor, e não do preço. Eles lidam com trabalhos cuja profundidade e intensidade mostram a penúria da vida diária numa sociedade obcecada com o mercado. Também são treinados para imaginar alternativas ao existente. A arte encoraja você a fantasiar e desejar. Por todas essas razões, é fácil ver por que são estudantes de arte ou de inglês, em vez de engenheiros químicos, que tendem a prover pessoal para as barricadas.

No entanto estudantes de engenharia química, em geral, saem mais facilmente da cama do que estudantes de arte e de inglês. Algumas das próprias qualidades que atraem especialistas culturais para a esquerda política são as mesmas que fazem com que eles sejam difíceis de organizar. São os curingas no pacote político, ativistas relutantes que tendem a estar mais interessados em utopia do que em sindicatos. Ao contrário dos filisteus de Oscar Wilde, eles sabem o valor de tudo e o preço de nada. Você não poria Arthur Rimbaud num comitê sanitário. Nas décadas de 1960 e 1970, isso fez dos pensadores culturais os candidatos ideais para estarem dentro e fora do marxismo simultaneamente. Na Inglaterra, um teórico dos Estudos Culturais proeminente como Stuart Hall ocupou essa posição durante décadas, entes de passar decididamente para o campo não-marxista.

Estar dentro e fora de uma posição ao mesmo tempo - ocupar um território e ficar vagando ceticamente pela fronteira - é, com frequência, de onde brotam as idéias mais intensamente criativas. É um lugar cheio de recursos para se estar, mesmo que nem sempre seja isento de dores. Basta pensar nos grandes nomes da literatura inglesa do século XX: quase todos se moviam entre duas ou mais culturas nacionais. Mais tarde essa ambiguidade de posição seria herdada pelos novos teóricos culturais "franceses". Não muitos deles eram franceses de origem, e não muitos dos que eram franceses eram heterossexuais. Alguns vieram da Argélia, alguns da Bulgária e outros da utopia. No entanto, quando os anos 70 foram chegando ao fim, um bom número dos antigos radicais começou a chegar do frio. A passagem para os despolitizados anos 80 e 90 havia sido aberta."

A ascensão e queda da teoria

In Depois da teoria - Um olhar sobre os Estudos Culturais
e o pós-modernismo, Terry Eagleton, Civilização Brasileira,
Rio de Janeiro, 2005, pp. 63-65.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Estou fazendo a leitura deste livro, e e interessante frizar, como e inteligente as metaforas comparativa que Terence Eagleton faz, tanto neste capitulo, como em anteriores e posteriores a este, vale a pena guardar um tempo para esta leitura

quinta-feira, julho 31, 2008  

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