28.11.05

Parênteses (Grêmio ganhou do Náutico no grito)

(Primeiramente como pernambucano - e torcedor do Náutico -, gostaria de apresentar algumas reflexões sobre os acontecimentos do jogo "Náutico e Grêmio" (final da 2ª divisão do Campeonato Brasileiro), que, junto com o do Santa Cruz, mexeram com o nosso Estado na tarde desse sábado, 26/11/2005.

O que eu quero dizer - e já serei claro: na minha opinião, com a palhaçada e molecagem que fez - não encontro outro termo mais adequado para a atitude de seus jogadores, dirigentes e comissão técnica -, o Grêmio ganhou do Náutico no "grito". E foi o velho grito do Sul nos ouvidos do Nordeste. Direi por quê.

Todos perceberam, pelas imagens da televisão, que na prática, por diversos fatores extra-campo, o jogo acabara aos 39 min do segundo tempo, quando foi marcado o pênalti a favor do Náutico. Desse momento em diante, o Grêmio ocupou-se, estrategicamente, em "bagunçar o coreto": viu-se uma sucessão de agressões ao árbitro por parte dos seus jogadores, expulsões, catimbas e invasões de alguns de seus torcedores e dirigentes, numa demonstração - altamente desrespeitosa, arrogante e antiética, ao Náutico e ao público pernambucano: de que não aceitariam - caso o pênalti fosse convertido (e tenho certeza de que o seria pelo Náutico naquele momento) - a vitória do time pernambucano, preterindo-lhes o acesso à primeira divisão do Brasileiro. E confesso que como torcedor era isso o que eu temia a respeito desse jogo.

Ora, porque o próprio Internacional, em jogo recente, não "pintou o sete" em São Paulo (exatamente o que o Grêmio fez em desagravo ao Náutico e ao Recife nesse sábado) contra o Corinthians, naquela garfada clamorosa que sofreu do árbrito, num lance muito mais claro
(cansativamente mostrado pela televisão) e menos discutível, do que o, ainda passível de questionamento, lance do segundo pênalti do Náutico?

Outra coisa: será que Sport, Santa Cruz ou mesmo Náutico, para ficarmos em Pernambuco, fariam uma "lambança" igual à que o Grêmio fez em campo neste jogo no Recife, caso passassem por uma situação parecida no Olímpico, Maracanã ou Morumbi? Pois eu lhes digo com certeza: muito provavelmente não, até porque nós, "pequenos", já fomos e vimos sendo historicamente e sistematicamente - como diz o cronista esportivo Milton Neves -, "preteridos" várias dessas vezes em lances também "duvidosos", pela elite do futebol do Sul e do Sudeste, e fica por isso mesmo. Alvirrubros, rubronegros e tricolores sabem bem disso, o que vale dizer: o grito do Nordeste não tem força.

O pênalti do Grêmio foi discutível: tudo bem, é coisa do futebol; não é o primeiro nem será o último lance duvidoso desse tipo. O que se coloca, e se questiona, entretanto, é o seguinte: é sempre permitido errar (involuntariamente mesmo) em favor dos times do Sul e Sudeste, quando então os adversários prejudicados, numa espécie de "sina dos pequenos" (a não ser se a briga for entre a elite), baixam a cabeça e nem pensam em "peitar" os "grandes", como o Grêmio fez em Recife contra o Náutico? Por que não se admite essa possibilidade, a de enfrentar os "grandes" nessas situações, para os times do resto do Brasil? Por que quando há lances duvidosos contra os "grandes" eles não admitem, absorvem, como sendo "coisas do futebol"? As "coisas do futebol", como se fala tanto no jargão desse esporte, são diferentes para Sul-Sudeste e Resto do Brasil? Acho que sim.

Aos times de fora do "eixo" não se dá o "benefício da dúvida"? Os "grandes" não aceitam ser postos nessa situação, mesmo que os "pequenos" convivam constantemente com ela. O Grêmio não aceitou "tal coisa" no jogo do Recife, e indiretamente terminou a partida, como disse acima, aos 39 min do segundo tempo, em franco desrespeito ao Náutico e ao povo pernambucano.

Quanto ao argumento da suposta inépcia do Náutico, eu diria: observem o trajeto da bola na cobrança do segundo pênalti, e notem que ela saiu prensada entre o pé do cobrador e o buraco, isso mesmo, o buraco que os jogadores do Grêmio cavaram na marca da penalidade máxima. Isso alterou a cobrança, sim, como o estado emocional de todo o time do Náutico estava prejudicado pela anarquia praticada pelo Grêmio. O gol do Grêmio já foi uma brincadeira na sequência da balbúrdia em que se transformou o campo dos Aflitos. O Grêmio gritou, bagunçou, esperneou e "venceu".

Disse-se que foi uma vitória maiúscula e viril. Pois bem: se o atual time do Grêmio é tão aguerrido e viril, porque não permitiu - o que um time equilibrado faria, e até porque não havia motivo, pelo exposto, para a palhaçada que se fez - que o pênalti do Náutico fosse cobrado
no curso normal do jogo, para a partir de então - tinha uns 10 min para isso, empatar, ou virar o jogo em cima do Náutico?

São essas algumas reflexões para quem gosta de futebol, e um pouco de justiça e equilíbrio. Como torcedor, não queria ver o Náutico na 1ª divisão, ganhando de um time com 7 jogadores. Foi melhor assim. O Náutico teve seus defeitos, mas o time do Grêmio nesse sábado, por
mais paradoxal que possa parecer, foi pequeno. Perdemos. São coisas do futebol... Até quando?


Lucas Tenório)














Vista aérea do tradicional centro da cidade do Recife
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Este texto foi publicado na edição de dezembro da "Página 21" - www.pagina21.com.br; antes, em 29/11/2005, um resumo seu fora publicado, como artigo, no "Jornal de Santa Catarina". - www.santa.com.br