31.3.06

Eclipse

O sol em proto-esfera
pelo luar levita
fragor, fragrância, vista
e o fumo das crateras

O sol da cor despela
em luz que regurgita
a cintura contrita
de amarela gazela

Na cal de primavera
aposto um seminal
na fossa genital
do caroço da, pera

Em orbital ambíguo
de um hermafrodita
prender atado à cinta
o outro lado do umbigo

Do ânus, casca basta
feito o parto do escuro
um feto fosco e anuro
emprenha sua madrasta

No mesmo intervalo
em que relincha a égua
e que a maré sonega
o esperma do cavalo

Endurecida a cinta
e cego o nascituro
perpassa o palinuro
a luminância extinta

E o coito se encerra
num orgasmo monocórdio
num preciso relógio
agônico de terra

Quebrado da placenta
o umbilical enlaça
a garganta da taça
herege e sacrossanta

E volta o grão ao estrume
e o ventre ensangüentado
celebra fecundado
o sombreado lume.

Lucas Tenório