7.3.06

A ostra e o vento

O vento traz no peso
repuxada na vaga
em arco espoletada
a ogiva de seu vezo

Liame granulado
em braço ambivalente
pavio impubescente
dum pendular petardo

Que ora leva o vento
ao átrio do abismo
e leva a pedra ao sismo
o ventre ao movimento

O vento cai vazio
de areia quando reto
maturo e de arquiteto
é redondo no cio

Redondo o vento vela
a todo sedimento
a crosta e a caravela
são excrementos de vento

Carcaças correlatas
ao mais suave aroma
lascivo o vento doma
matérias putrefatas

Do gozo a ostra exala
o sal do feromônio
caldeado o hormônio
que o vento traz na gala

E prolifera o coito
em profusão de esperma
berçário, gesta, intróito
e gênese de terra

E o mar vira sertão
num barro encarquilhado
e os rios e alagados
evadem-se do chão

Na fenda, a ostra está
prenhe do galeão
guardada em ovulação
a vertente de um mar

Num corpo desertor
costela de calcário
coroa, escapulário
e mãos de pescador.

Lucas Tenório